terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Ainda.

Seus olhos hesitaram em se focar nos meus por alguns instantes, enquanto isso minha respiração inconstante se alastrava por todos os meus sentidos inconscientes. Esse encontro já havia acontecido algumas vezes e o sentimento, assim como o brilho daqueles olhos, eram imutáveis. Acontecimentos desfavoráveis ou palavras distorcidas jamais mudaram isso. Pela primeira vez eu tive o poder de expulsar as palavras da minha boca sem ao menos sentir o que fazia. Meu coração poderia rasgar meu peito e ainda assim seria indolor. Somente o som da sua voz ecoava em minha cabeça e as palavras que não tive a ousadia de citar, agora são somente um pedaço dos sonhos que poderei ter. Não há mais o que pensar, porém ainda restam decisões que não foram tomadas. Não posso, ainda.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Lembrança.

Quando começo a aceitar que preciso manter longe do meu pensamento suas lembranças, você retorna para minha vida como um furacão selvagem, levando contigo outra vez, toda a sanidade que tentei manter intacta durante os dias irrelevantes, que passaram para você como se eu nunca houvesse existido. Pobre consciência que se limita a reter nossos momentos frágeis. Quantas noites ainda precisarei ficar em claro até que me convença de que já desaprendi a respirar? Sou apenas uma sombra, opaca e embaçada, sou o que restou de mim mesma quando vi sua imagem se perder entre a neblina, cúmplice dessa asfixia irrefreável que me despedaça a razão. Espero o tempo transcorrer na expectativa de consentir que já não há mais o que se fazer, me empenhei e entreguei todas as minhas forças porém não fui capaz de te fazer meu, não fui suficiente para sua felicidade e aos poucos você foi me renegando e ainda assim eu te desejava cada dia mais. O desespero estampado na íris de meus olhos foi se multiplicando através de cada uma das células do meu corpo. Por que me negar tão pouco? Creio que o mais notável nisso tudo tenha sido seu silêncio, as mãos frias e o pulso constante. Sua naturalidade em se manter indiferente e minha inaptidão em permanecer calma, impossível conciliar características tão distintas. Preciso reaprender a viver, pois desde que apareceu em minha vida meus segundos são somente resultado das recordações ilusórias que me acorrentam ao que é você e consequentemente me quebram em infinitos estilhaços. Cada um desses incontáveis fragmentos contém um pouco da angústia que sufoca meu peito a cada minuto que permaneço sem seu toque. Enquanto eu achava que tudo o que estava guardado dentro de mim era recíproco, você me mantinha como mais um brinquedo em sua estante, aquele para ser usado quando não havia mais nenhum à sua espera. Não posso continuar atada aos meus momentos contigo, não posso mais formar sua imagem em minha cabeça a cada piscar de olhos, porém simplesmente não sei como me soltar e sendo assim só posso me responsabilizar pela minha fraqueza e por minha incapacidade de me desconectar. Estou definhando, minhas forças se esvaem a cada segundo e já não existem mais justificativas, apenas fatos e são eles que precisam me guiar, no entanto estão carregados de minhas lamúrias e do meu desespero. Porque não sou capaz de sanar essa doença que parece incurável tão rapidamente como apareceu e agora faz parte do sangue que corre em minhas veias? As lágrimas insistem em escorrer mas não serão capazes de chegar ao seu principal objetivo, que é lavar da minha alma esse sofrimento que domina todos os meus sentidos. É tão fácil fingir, mais fácil ainda é fugir, aparentar que está bem ao passo que tudo em seu interior grita e se contorce clamando por uma resposta. A ideia de redirecionar minhas motivações é tão absurdamente tentadora que poderia torná-la real se realmente quisesse que as coisas fosse assim, mas de que adianta? Não posso esperar que meu bem estar se reflita no que é desconhecido, não posso deixar que minhas esperanças sejam sustentadas pelo que não é costumeiro. Posso usar qualquer um e por alguns e devastadores instantes me obrigar a esquecer o que você é para mim, mas quando voltar ao lugar que me pertence, nada irá fazer sentido e a dor, cruelmente, aos poucos tomará conta de mim. Porque ainda insisto em sentir falta do que jamais concretamente foi meu? Nunca foi meu por inteiro e possivelmente isso nunca fez parte dos seus verdadeiros planos. Quero você, seus defeitos, suas carícias, seus abraços, seus sorrisos, quero tudo aquilo que foi capaz de me conquistar, porém de que adianta querer? Sempre ocultei todos os meus verdadeiros sentimentos temendo sua reação, mas de nada adiantou, pois antes tivesse revelado o que eu encobria, assim haveria um motivo concreto para esse afastamento. Nunca medi esforços pra te ver feliz e pela primeira vez sou capaz de não me arrepender de absolutamente nada que fiz, agora só me resta esperar, o tempo poderá me ferir mais um pouco. Mas somente ele poderá me trazer a resposta que tanto aguardo. Apenas não negarei que ainda sonho com o dia que você me necessitará e imediatamente virá em minha direção com os braços abertos, para me abraçar forte e tirar meu fôlego, como imagino todas as vezes que tento repousar minha cabeça no travesseiro.