segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Sem sentido.

Um rascunho rasurado em cima da mesa parece conter todas as palavras que um dia foram necessárias para o que eu achava ser sinônimo de sobrevivência. Hoje certas coisas não mudaram, na verdade grande parte delas, a única diferença é que as lágrimas que antigamente eram capazes de amenizar a dor, já nem sequer caem mais. Não vou dizer que foi fácil me acostumar com a pontada de dor que me cerca e aos poucos vai me arrastando para o chão, porém agora é como se isso já fizesse parte de mim, ficou fácil de esconder. Ainda que cenários diferentes venham modificando somente algumas partes das concepções que construíram o que sou hoje, não consigo me desvencilhar das armadilhas que sentem prazer ao me atacar. Meu coração foi sendo machucado aos poucos e eu simplesmente não consegui resistir e seguir firme, me derrubei e caí. Não sei ainda o que me levou a tomar as decisões que tomei ou a trilhar os caminhos que trilhei, sei apenas que não queria mais carregar qualquer tipo de arrependimento ou de dor interior. Tentei resistir, não vou negar, mas me desgastei lentamente. Seria um pouco menos árduo sentir a dor de uma só vez, pois talvez consumisse um pouco menos da sanidade, mas as coisas jamais foram fáceis para mim, não seria justamente nesse momento que tudo mudaria. Relutei e depois consenti que tais sentimentos se apoderassem de mim. Me moldei achando que teria a força necessária para carregá-los sem me perder pelo caminho. Mais uma vez, me enganei. É tão difícil não sentir medo antes de pensar em vasculhar o interior. São tantas fagulhas que ainda rasgam meu peito por dentro. Queria poder fechar os olhos e dormir eternamente na esperança de relembrar certos detalhes, quantas vezes fossem necessárias para que me fosse devolvida a paz interior. A cada minuto meu coração diminui sua vitalidade, é como se estivesse se cansando ainda novo. Os minúsculos cacos que restaram hoje são pedaços, sem nenhum significado, de algo que já foi inteiro e saudável. Não faço mais questão alguma de me reconhecer quando passo por um espelho. É melhor não saber o que se passa dentro de mim, pois me tornei uma estranha, sou meu pior inimigo. Só consigo desejar que tudo se apague da minha mente e que eu possa recomeçar as coisas do zero, rapidamente, do mesmo jeito que tudo isso começou. Seria mais fácil acordar um dia e saber que tudo não passou de um pesadelo, tendo a certeza de viver bons momentos com alguém que realmente mereça isso. Sinto muita falta de sentir aquela mistura de sentimentos e de esboçar um sorriso ao lembrar de alguém. Todas as vezes que isso parece que vai voltar a acontecer eu me engano e caio mais fundo do que já caí antes. Aprendi a rir das minhas quedas, por mais que ainda doa fundo e aos poucos acabe com as únicas esperanças que me restam. Queria ter o poder de me certificar que algumas coisas valem a pena, assim como sei que valho, por mais que aquelas palavras ainda passeiem pelo ouvido me deixando atônita, essa hoje, é minha maior certeza. Não me recriminarei mais até que provem que não me resta nada mais para viver. Por enquanto não me sobra qualquer outra alternativa a não ser vagar nas esperanças que arduamente tentam se renovar em meu interior, dia após dia.

domingo, 5 de setembro de 2010

Partida.

Senti um arrepio pelo corpo ao chegar naquele terraço. Mais de vinte andares me separavam do chão. A neve caía sobre meu capuz tornando-o pesado. Já me bastava o peso que estava carregando desde o dia do nascimento. Sacudi minha cabeça intencionalmente, porém os flocos já pareciam estar grudados ao tecido. Enquanto me movimentava até o pequeno vão entre o concreto e o vazio, fechei os olhos e senti mais uma vez minha cabeça pesar. Retirei o capuz, deixando que os fios de cabelo entrassem em contato com os pequenos flocos de neve. Aquela cena me fazia lembrar meus pais. Inevitável esquecer seus rostos sorrindo e a janela do carro embaçada pela neve, que foi o único obstáculo para nosso último adeus. Dez anos se passaram e aquelas lembranças ainda faziam arder todas as cicatrizes que o tempo não se cansava de deixar. Fui obrigada a crescer tão rápido que nem sentir doer. Abri meus olhos e observei que as pequenas luzes da rua iluminavam as pessoas que passavam. Os minúsculos rostos não me pareciam conhecidos. Buscava e não encontrava. Não encontraria mais. Tentei ignorar mas meu coração latejava tão forte dentro do meu peito, que um grito de dor ecoou pela madrugada fria. Me recolhi em um canto e envolvi as pernas com os braços no intuito de me aquecer. A lua iluminava os pontos molhados pelas lágrimas que escorriam na minha calça. Estava em estado de inércia. A felicidade que ele me trouxe depois da ida dos meus pais pareceu sanar todo aquele martírio. Cinco anos de amor e cumplicidade. Agora nem ele me restava mais. Nasci destinada a perder todas as pessoas que poderiam me fazer feliz. Engoli em seco ao constatar isso e fingi que não estava sentindo os pingos da chuva. Gotas pesadas que derretiam a neve e me congelavam, exatamente como havia acontecido com meu coração. A única esperança de felicidade que me manteve viva nos últimos anos havia sido partida. Uma noite acordada vagando solitária pela cidade foi suficiente. Eu já não sabia mais quem era. Essa podia ser a única conclusão que tirei da vida. Junto com ele se foram o que me restava da alma e de sanidade. Flashes atormentadores irromperam em meu pensamento. Uma noite fria. Um carro. Um garoto. Um atropelamento fatal. Ele me protegeu de tudo o que podia me afetar e eu o observei partir sem ao menos me movimentar. Me sinto cruel. Cruel, culpada e desligada desse mundo e de qualquer sensação humana. O sol começava a nascer. Levantei e caminhei novamente para perto do vão que me possibilitava ver a rua. Respirei fundo antes de olhar para baixo. Meu corpo se arrepiou quando me fixei no canto esquerdo. Não sei qual a explicação para isso, mas eu ainda podia ver seu corpo imóvel estendido no chão. Lembrava perfeitamente das mãos cobertas de sangue e do último abraço. Me permiti sentir de novo aquele eterno amor. Não seriam mais de vinte andares que nos separariam, muito menos duas formas de vida diferentes. Meu lugar era do lado das pessoas que me amavam. Não sei se aquela atitude era a certa a ser tomada, porém eu precisava daquilo. Não aguentava mais sofrer. Olhei para o céu alaranjado, respirei fundo e a última sensação que senti foi um frio desconfortável na barriga. Assim tive a certeza que parti ao seu encontro.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Já não sou capaz...

O sol se esconde atrás das nuvens e enquanto isso meu coração grita por socorro dentro do meu peito. Certas coisas parecem tão banais, exceto pra mim. A situação desesperadora em que me encontro é capaz de distorcer qualquer tipo de esperança de um futuro bom, que jamais parece chegar. Fecho meus olhos. A sensação de vazio é a mais estranha possível, porém ela já faz parte de mim. É como se eu estivesse à beira de um precipício e não houvesse outra alternativa a não ser pular. Abro os olhos e tento em vão buscar as respostas. Sentada aqui, as ondas parecem tão maiores. Não seria nada mal se uma delas pudesse me carregar para o infinito. Os dias passam e a dor aumenta. O verbo que mais escuto no último mês é esperar. Não dá mais. Arquitetar sorrisos e esboçar uma felicidade que não existe pode cansar, é uma tarefa árdua. É capaz de consumir em vão a pouca força que me resta. Músicas tristes e lágrimas são as únicas que me acompanham dia após dia. É como se não existisse nada além da solidão. Ela me castiga de uma forma tão bruta. Sem piedade alguma. E aqui estou eu, tentando um recomeço, quase todos os dias. Um recomeço que parece ser em vão.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Quando?

Momentos acontecem e se tornam passado. Somente o futuro poderá responder as perguntas que me atormentam e tiram meu sono agora. Quanto mais eu vivo, mais eu desisto de achar que certas coisas fazem sentido. Nada está programado para acontecer linearmente. Mas e se nem assim acontece? Passei pela mesma coisa incontáveis vezes e ainda assim não sou capaz de entender. Meu silêncio se mantém. Ele está vivo, posso sentir enquanto ri de mim e das minhas fraquezas, baixinho, me torturando o pensamento. Queria poder fugir, talvez o cotidiano que se faria inexato sem minha presença, te fizesse sentir minha falta. Encontro e vejo partir, em sequência, diversas, incontáveis, milhões de vezes. É como um filme, sem graça, que assisto já sabendo que no final não haverá um "feliz para sempre". Quantas vezes mais será que minhas fantasias se transformarão naquelas montanhas de areia que o mar carrega sem piedade alguma? Eram enormes, hoje não passam de minúsculos grãos dissolvidos em uma imensidão de água gelada. Queria que certas palavras explodissem da sua boca, com força capaz para chegar até mim. Sei que te machucaria ao dizer que não me recordo mais seu semblante, que nada me marcou, porém não sou capaz. Só consigo mentir para mim. Poderia esboçar um sorriso, um desenho bem arquitetado, daqueles que em momentos tristes, só você conseguiria. Um momento inesquecível. Mais uma vez, diversas, se possível. Eu lembro. Perfeitamente. Como se fosse ontem. Em meus sonhos? Quase todas as noites. Acordo sentindo que poderia acontecer algumas vezes mais. Se possível sempre. Amargas armadilhas que eu crio no meu inconsciente para me martirizar um pouco mais. Digamos que, esse pode ser um dos meus passatempos preferidos. Me corta por dentro saber que nada pode te obrigar a sentir falta do meu abraço. Que abraço? Como vou cobrar isso? Nem ao menos recorda minha voz. No entanto, sei o lugar que posso ir pra saber que você existe. Para lembrar, recriar e moldar vagarosamente certos detalhes. Lá posso me envolver com recordações e encontrar minha paz interior. Posso fechar os olhos diversas vezes e nem assim me deparo com o desconhecido. Encontros e como resultado deles, tenho conclusões. Cansei de ter a força necessária para acreditar no futuro, reconstruir e logo após, ter meus desejos totalmente demolidos. Fiquei exausta. Dessa vez sim, eu preciso de uma boa razão para voltar a acreditar que realmente valerá a pena meu esforço. Por enquanto só me restam lágrimas.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Começar de Novo.

Questionamentos sempre foram umas das principais motivações da minha vida. Nada poderia ser meu combustível senão fossem as perguntas que me mantém viva. A escuridão do quarto me envolve de tal maneira que fico mais angustiada do que normalmente. Do outro lado da cama minha irmã me observa. Ela tenta em vão me ajudar. Desejos profundos corroem meu rosto, que ainda possui traços infantis, transformando-o. Alguns pedaços do espelho quebrado da parede, estão no chão. Eles refletem o semblante triste e envelhecido. Quem sou eu agora? Uma menina nova, acabada pelos acontecimentos da vida. Tenho uma faca gravada estrategicamente no coração. Ela perfura qualquer uma das minhas esperanças futuras. O caderno rasgado em cima da cama é a ilustração perfeita de toda a minha vida. Textos inacabados suplicam pelo final feliz clichê. Já menti tanto para as pessoas que me cercam. Os pedaços preciosos de papel, que contém momentos inesquecíveis da vida, não merecem tal falta de consideração. Não haverá final feliz. Nunca houve. Talvez seja por isso que meus antigos textos sempre acabassem perfeitos. A falta de momentos extasiantes sempre me manteve atada a linhas, onde não havia outra alternativa senão preencher com a quantidade de felicidade que fosse necessária para mim. Certas imagens se fixavam no meu imaginário como flashes. Durante rápidos segundos mantive os olhos fechados. Dois dias em claro haviam sido mais que suficientes para deixá-los exaustos. Um sorriso pareceu nascer no canto de meus lábios. Exatamente no momento que o imaginário me envolvia, tive um reflexo e abri os olhos. As lentes de contato estavam me machucando. Não quis tirar. Em alguns minutos eu precisaria enxergar perfeitamente, para então entender meu futuro. Eu já não era mais a mesma pessoa. As roupas espalhadas no chão podiam confirmar isso. Tão fraca. Tão frágil. Em certos momentos até fazia sentido sentir pena de mim. Eu precisava de compaixão para poder seguir em frente. Era sempre necessário para me acalmar ser a injustiçada e chorar em vão. O dom de atuar em meu próprio mundo sempre me fez esnobar as atrizes da televisão. Elas sempre faziam as mesmas expressões, aquilo me cansava. De repente movimentei a cabeça. Lágrimas voltaram a me envolver. Minha irmã já estava arrumada para me acompanhar, mas eu preferia atrasar um pouco certos momentos. Respirei fundo e caminhei novamente em direção à janela. Outra vez relembrei certas coisas. Aquele sorriso bobo sempre seria inesquecível. Enquanto nuvens negras e carregadas dominavam o céu azul, decidi que era melhor me vestir logo. O vestido era tão escuro quanto aquelas nuvens. Que sensação inebriante. Do céu, aquelas massas pareciam me dominar. Eu me sentia leve, ainda que o peso do futuro pairasse sobre mim. Cenário perfeito para o fim de tarde mais triste da minha vida. 
-Vamos, já estamos atrasadas. Seus óculos escuros e sua bolsa já estão comigo. - Minha irmã repetiu algumas vezes, antes que eu lhe desse a atenção necessária.
Eu não sabia o que aconteceria. Depois de tantas vezes dando adeus, havia chegado o momento do que seria o último de tantos. Jamais imaginei que aquele poderia ser o desfecho. Um dos principais motivos de tudo aquilo era eu. Será que eu seria capaz de encarar todas aquelas pessoas? Continuo viva, diferentemente dele. Mas ninguém pode ser capaz de entender que a falta de coração me matou também.
As cicatrizes vão arder para o resto dos meus dias. Pelo menos hoje tenho consciência plena que ele não veio para tornar minha vida fácil. Só melhor. As amarras que me prendiam ao passado se desfizeram rapidamente. Em algumas horas teria certeza que a minha única alternativa é começar de novo.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Desejo Momentâneo de uma Noite de Inverno.

Perdida no meio de uma imensidão negra, sinto o vento bater no meu rosto. Olho para os lados e não consigo enxergar absolutamente nada. Pequenas luzes se distorcem, ofuscando meus olhos, mas o vazio que está na frente parece me puxar. É muito mais soturno e interessante. Vejo que estou me distanciando de tudo, ao passo que o pensamento voa para muito longe. O frio me incomoda. Me mantém parada. Estática. Minha cabeça descansa serenamente sobre os braços, que começam a ser atormentados pelo frio da noite. Enquanto isso os olhos se movem em suas órbitas buscando algo que não está ali. Forço as pálpebras uma contra a outra e depois fecho os olhos. Só consigo escutar o barulho do mar ao fundo, ora calmo, ora agitado. A inquietação toma conta de mim ao passo que contraio os músculos da face. Fico amedrontada, pois jamais gostei de estar sozinha, à deriva, no desconhecido. Busco e nada encontro. As luzes clareiam e apagam. Fecho e abro os olhos. Quase me derrubo. Me movimento rapidamente como se a turbina de um avião me tomasse pelos cabelos. Sinto algo me puxar. Mordo os lábios e os contraio rapidamente. Minhas mãos não ficam quietas, parecem buscar algo. Imagens se formam e levam para longe minha imaginação. Paro. Penso. Escuto. Sinto. Vejo. Você. Aqui. Agora. Em mim.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Bem que eu gostaria de...

Qualquer final de tarde nunca pareceu tão vazio e as coisas nunca pareceram tão fora do meu controle. Me sinto imersa no vácuo que não me permite fazer movimentos bruscos com o propósito de me resguardar da possível queda que me aguarda. Minha consciência se perdeu antes mesmo de encontrar motivos e justificativas, porém o silêncio conseguiu se manifestar e clarear tudo o que foi evitado em mim. Estou sentindo algo inquietador que jamais me permiti ou tive a infelicidade de sentir. Preferia estar preparada pra não enfrentar isso sozinha, como estou agora, com os olhos atados, sem saber que direção tomar. É devastador o modo como isso engole todos os sentidos e consequentemente sou capaz de me afogar em músicas. No momento creio que apenas três músicas são necessárias para mim. As únicas três que encontrei, que não relatam momentos de amor. Assim não possuem o menor significado diante da intensidade e da estranheza que isso causa. Consigo escutar a melodia lenta sem que as letras rasguem meu coração em fatias. Experimentei diferentes sensações de uma só vez e essa, que sinto no momento, é a única que tem a capacidade de absorver grande parte das outras que já me proporcionei incontáveis vezes. Parece que acabei de perder algo totalmente irrecuperável, sendo que até agora não tenho motivos para me lamentar, nada ocorreu, tudo ainda segue pairado no ar, abstrato. Sinto os cílios se fechando rapidamente junto com as pálpebras, tentando abrigar meus olhos para que não vejam o previsível. A dor que é o único resultado dessa fatal solidão e de todos os momentos que já fazem parte das inesquecíveis lembranças. Bem que eu gostaria de poder reviver tais fatos. Porém agora só me resta o tempo dizer se tudo foi em vão ou não...

domingo, 30 de maio de 2010

Cidade Confidente.

O final do verão tem muito de melancólico. Acabo de escrever um perfeito lugar comum. Todas as tardes comprovo que a luz diminui uns minutos no dia anterior. Estou perfeitamente reconciliada com a mudança de horário que, este ano, nos deu tardes longas até o cansaço sufocado. Compreendo os argumentos na contramão, mas não são os meus. Não posso ir contra qualquer argumentação, estou um pouco cansada delas. Assim como me cansei da minha própria imaginação que corroeu cada músculo do meu coração. Até torná-lo uma terra infértil para qualquer sentimento que queira florescer. É inevitável não me questionar porque os sentimentos mais remotos conseguem penetrar meu ser de uma forma quase indolor e depois de um certo tempo se tornarem a pior tortura que alguém poderia sofrer. Tudo é tão contraditório que me faz acreditar que qualquer explicação jamais bastará, em alguns segundos o ar que chega aos meus pulmões não é mais suficiente para manter constante o compasso da minha respiração. Então sou capaz de ver com nitidez que em alguns instantes tudo parece desmoronar, como os castelos de areia, que o mar levou rapidamente, sem o menor lamento. Castelos estes, que contemplei algumas vezes na praia, durante as tardes que me esforcei para aguentar, sozinha e esquecida. Esse tempo que envolve o verão deveria ser um ciclo infinito. Ainda mais nessa cidade que não se cansa de modelar e esculpir quaisquer acontecimentos da minha vida. É um cenário minuciosamente desenhado. As cores, sintonias e luzes se cruzam tão perfeitamente como se me guiassem para sensações desconhecidas. Cada imagem que vejo se esboça diante de minhas pupilas de uma forma inigualavelmente extasiante. As ruas dessa cidade têm o poder de me manter viva, ainda que todas as luzes se apaguem com a intenção de me fazer dormir. Elas se atravessam e percorrem meu corpo, suplicando para fazer parte de mim. Assim como todos os vasos sanguíneos que carregam sangue ao meu coração. Ainda posso sentí-lo palpitar, um pouco mais lento e cansado, mas sei que ele segue ali, se esforçando por mim. O que escrevo ultimamente não faz sentido algum. Ainda mais hoje, neste momento, diante dessa tela, que enxergo um pouco distorcida devido aos meus olhos mareados de lágrimas. Relembrar momentos às vezes pode machucar um pouco mais fundo do que o normal. Relevar certas coisas é tão fácil, mas esperar que o tempo feche as feridas custa um pouco mais. Até hoje, depois de passados alguns meses, isso ainda me toma certos momentos de paz interior. Definitivamente acho que o verão que passou ainda tem o poder de me deixar completamente desnorteada. Perco minhas forças quando a nostalgia me domina. Me sinto refém de algo que nem ao menos posso caracterizar. Lembranças insanas de tempos que jamais poderei reviver. Tempos que hoje tenho como um dos bens mais preciosos da minha vida. Tardes quentes em que decidi abandonar grande parte dos meus desejos temendo não ser capaz de seguir em frente. Dias um pouco mais longos em que os céus de diferentes colorações clamavam pela necessidade de um sorriso que não se formava em meu rosto. Noites quentes nas quais meu coração congelava devido à falta de reciprocidade de um amor. Momentos angustiantes que se desenrolaram de uma forma não muito convencional, e que transformaram-me em tudo o que sou hoje. Me esforço constantemente na tentativa de não pensar mais, porque ainda que o tempo tenha amenizado os acontecimentos, todos os meus caminhos me fazem retornar aqueles dias, com a esperança de reviver algo parecido. Não posso negar que os acontecimentos do meu presente são coerentemente consequências diretas daquele passado que ainda me assombra. Não vou negar que ainda há em mim vontade de reviver e de mudar coisas que aconteceram. Porém jamais com a intenção de mudar o que eu sou hoje. Certa angústia mesclada com inquietação ainda me mantém enjaulada, sozinha e presa dentro de minhas próprias loucuras. Sou refém de mim. Sempre fui, só não percebia, pois as diretrizes pareciam ser outras. Travo uma batalha árdua dentro de mim todos os dias ao passo que tenho certeza que é um alívio aprender a esquecer aquelas sensações vivas e recorrentes. O sol daqueles dias ainda permanece intacto e brilhante. Se esforçando e lutando para reacender a chama que iluminará para sempre meus dias. Me sinto um pássaro recém nascido, que caiu distante do ninho e que precisa se salvar dos perigos, ao passo que espera crescer para viver sem medo. Sempre com a intenção de poder voar e enxergar tudo de outro plano. É um pouco árduo o trabalho de buscar palavras para tentar construir frases sensatas sobre aqueles tempos. Tempos que se mesclam com quaisquer uma das minhas atitudes do presente, ou melhor, que se mesclam com o meu presente, literalmente. Reitero que nada faz sentido, assim como eu, assim como meus pensamentos sem lucidez e minhas atitudes irracionais. Estou soando tão complexa que ninguém ousará, ou fará alguma questão de tentar entender. A brecha na cortina me permite contemplar a lua cheia. É exatamente a mesma lua que iluminou aquela noite quando tudo começou. A noite que foi a razão principal de grande parte dos acontecimentos do verão. A noite em que o casulo se desfez, consentindo assim em me deixar voar. A noite que me permitiu viver novos momentos e conhecer novas sensações. Depois dali tornei possível conhecer meu verdadeiro eu interior, que existia, estagnado e escondido. Nada nunca poderá se comparar à todos os momentos daquele tempo. Lá descobri que tudo pode ter começo, meio e simplesmente nunca ter fim. Apenas escrevo hoje com o intuito inconformado de saber que me deixaram ir sem nenhuma explicação. Me abandonaram mesmo sabendo que eu era incomparavelmente única. Abro meus olhos e enxergo o mundo sabendo que os desacertos jamais, em tempo algum, foram cometidos por mim. Desilusões são coisas tão banais. Apenas não sabemos disso. Finalmente hoje tenho a plena certeza que todas as coisas sucedem por um motivo certo. Por mais que sejam dolorosos e nos deixem inconformados. A vida é inevitavelmente coerente e se as coisas ainda não modificaram, há que se esperar, tudo o que não vem à nosso favor pode nos fortalecer. E ainda acordo todos os dias, mais forte do que era, com uma única certeza. Jamais deixarei de acreditar que existe alguém, em alguma parte do mundo, esperando por mim. Cedo ou tarde, acontecerá. Enquanto isso sigo aqui, me apaixonando, todos os dias. As paisagens conseguem ser belas em qualquer estação. Essa cidade alcança o feito de ser indubitavelmente única e me arrancar suspiros quase impossíveis. Por isso seguirei sempre buscando esconder minhas mágoas e desejos súbitos atrás das pedras e do sol poente do Arpoador.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Dualidade.

É impossível não perceber que a felicidade que estampa a íris dos meus olhos não passa de pura falsidade. Ela é boa, porém não me completa e muito menos satisfaz. A sensação de saber que se pode sanar qualquer necessidade por alguns instantes, vista de um primeiro plano, parece bastante extasiante. Depois que essa atmosfera boa e momentânea se esvai, a mesma letargia cotidiana se apossa de mim rapidamente. É tão difícil saber o que queremos ou não para nós...Os caminhos se bifurcam e se tornam opostos com tanta facilidade que é mais fácil duvidar dos bons acontecimentos do que acreditar neles. Eles se tornam turvos e sem lucidez diante dos meus olhos cansados. Se tornam obsoletos diante de todas as músicas que tenho escutado...principalmente as que falam de amor, de relações que terminaram de uma forma boa ou não...Isso me esgota, me desgasta, me deixa desnorteada. Parece ser tão árduo tentar entender essas histórias... Mesmo ainda depois de algum tempo, aprendizados, erros e acertos isso continua sendo muito difícil para mim. É...eu realmente não faço mais sentido algum, ainda mais depois de quase um dia sem dormir. O pior de tudo é que ainda assim, dentro da minha mente isso continua fazendo pleno sentido. Realmente, dualidades sempre serão parte de mim.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Oscilações.

Só o tempo possui o poder de transformar e modificar situações. Meu tempo corre, me deixa atônita. Até hoje é o único que pode me metamorfosear. Esse tempo é o mesmo que grita dentro de mim, pedindo socorro. Ele quer correr rapidamente ao passo que dilacera dentro de mim qualquer esperança que eu tinha de permanecer aqui, estagnada, para sempre. Algumas vezes é necessário que me salvem de mim mesma. Todo mundo tem um inimigo quase mortal. Não nego, sou minha própria inimiga. Asseguro que sou mais mortal do que qualquer vilão de filme. Eu não quero matar ninguém no final, posso garantir. Meu único objetivo é certificar que não me mutilarei em algum trágico desfecho. As lutas constantes que são travadas frequentemente em meu interior me permitem, hoje, analisar tudo de formas diferentes. Algumas pessoas passam por nossas vidas e permanecem para sempre nelas, outras simplesmente se vão rapidamente, porém nada acontece por acaso. Não estou aqui escrevendo isso por acaso. Levantei necessitando de palavras, que ainda que possam parecer soltas no ar, fazem sentido dentro de mim. É tudo meticulosamente coincidido para acontecer. Minha vida é a prova mais perfeita disso. Questões não param de importunar meus sonhos. Não sei nada de futuro, não posso responder. Qual será a próxima cena? Quem será o próximo protagonista? Não vejo nada acontecer. Não existe resposta alguma. Só sombras. Uma parede se fecha e me acoberta nesse quarto escuro, que é iluminado somente por uma brecha na janela. A madrugada me envolve e o som dos carros na rua parece marcar o compasso de mais um conflito. Minha cama se ergue, quer me engolir. Ela clama por mim. Minhas cobertas tentam me amordaçar. Meu travesseiro quer bloquear meus olhos. Preciso fechar as cortinas e cessar qualquer barulho, minha respiração está ofegante. Estou me interrompendo sem fazer sentido. Preciso sair desse mundo, dessas oscilações, necessito sonhar. Quem sabe em meus sonhos, naqueles mais profundos delírios eu descubra. Tudo possui uma resposta. Então, quando será que descobrirei, de verdade, quem eu sou? Só o tempo...

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Encruzilhada.

Mais um dia começou e a felicidade evidentemente estampa meu rosto com leves sorrisos dignamente bonitos e falsos. Sou quase uma peça de teatro bem montada no quesito de ações e demonstrações de sentimentos que não são verdadeiros. Me desarmo inteiramente ao afirmar que sei fingir muito bem, acho que esse é um dos principais motivos da minha intermitente vontade de ser atriz e fazer teatro para o resto da vida. Aparentemente as decisões que venho tomando não me satisfazem completamente. Não vou negar que momentaneamente elas me fazem demasiadamente feliz. Porém quando essa sensação passa e o recomeço se dá, surge uma sensação massacrante de angústia. Basicamente tudo se torna estranho quando você tem o que quer de uma maneira, posso dizer, razoavelmente fácil. Aí então quando surge algo que obviamente tem o aspecto de ser fácil e não é, existem aqueles dilemas costumeiros de sofrimento. Seria possível dizer que ser feliz sempre é algo quase impossível, todos sentem necessidade de sofrer. Indiscutivelmente o sofrimento vicia, de um modo que é quase impossível se desvencilhar dele. Essa sensação toma conta das células do nosso corpo e se propaga rapidamente. Ainda que tudo esteja dando certo, sempre há alguma necessidade de buscar algo que nos deixe triste. Se eu pudesse ficar filosofando durante horas sobre o que se passa dentro de mim, a única conclusão que me deixaria satisfeita seria alguma que fosse dotada de um resultado digno. Resultado esse que só seria válido se pudesse ajudar uma menina de dezenove anos que se encontra perdida em milhões de crises existenciais e de consciência. Afinal, alguém consegue se entender e saber o que deseja sempre? Sinceramente ninguém, quem afirma isso não passa de alguém que quer ignorar todas as complexidades da cabeça de um ser humano. Sou um poço sem fundo de dúvidas, exclamações, desacertos, loucuras, sentimentos estranhos...Sou complexa demais. Sou uma encruzilhada.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Instabilidade interior.

As folhas amassadas que eu havia deixado no canto do quarto foram bagunçadas pelo vento forte. Eu estava naquele lugar que me manteve intacta durante anos, mas agora eu já não fazia parte daquela bagunça. Eu era a bagunça propriamente dita. Era impossível não ouvir o barulho sombrio se alastrando pelos cômodos da casa. A escuridão já não me incomodava mais, já fazia parte do meu cotidiano, era como se fosse uma velha companheira. Eu podia senti-la a todo momento penetrando minhas células, rapidamente, mantendo assim meu corpo congelado. Ao meu redor, nada além de retratos que marcavam alguma parte qualquer da minha vida, inusitada ou não. Imagens que claramente retratavam uma pessoa que não permanecia mais ali. Faziam parte apenas de algum passado que já se encontrava perdido no tempo. Abri meus olhos lentamente enquanto tentava me posicionar da melhor maneira possível na poltrona. Respirei profundamente e pude sentir meus pulmões pesados. Eles agiam como se estivessem expulsando o ar que preenchia meu interior, demonstrando que nem meu corpo estava sob meu controle. Porém algo fazia viver, o sangue ainda corria pelas minhas veias, mesmo que meu coração palpitasse vagarosamente. O céu estava cinzento e escuro, e eu estava parada, totalmente estática, buscando naquela imensidão alguma resposta. Busca infrutífera que jamais me conduziria a direção alguma. Ao meu lado estava uma almofada velha, um pouco manchada pelo tempo. Movimentei minhas pernas e só pude perceber que lágrimas caiam do meu rosto, quando senti que eu reencostava minha cabeça sobre algo úmido. Gotas de chuva molhavam a lateral da janela e velozmente distorciam a imagem das luzes da rua que ainda encontravam-se acessas. É impossível achar que algo bom estivesse a minha espera, eu já não possuía mais crenças. Minha imagem diante de qualquer pedaço de vidro que refletisse algo, irrompia sombria. Posso afirmar precisamente que não passo de uma união de cacos. Estou em pedaços. Fatias, fragmentos, peças, retalhos, lascas, estilhaços. Qualquer uma das palavras anteriores é uma minuciosa descrição de qualquer coisa boa que ainda possa me habitar. Sou uma terra infértil na qual as flores jamais poderão prosperar saudáveis. Os bons sentimentos em mim são como as flores na terra. Sinto falta da menina frágil que fui um dia. Sinto falta do medo de sentir medo. Sinto falta de carinho. Sinto falta de amor. Sentir falta. Isso basta. Não me resta nada. Desapareci lentamente. Era um tudo, sou um nada. Mentiras sóbrias e lúcidas se apossaram do meu coração. Envolveram cada centímetro quadrado de amor que me ocupava e os converteram em frieza e desamor. Sou alguém sem coração. Sou um choro falso que ecoa pela noite, que costura as luzes da rua procurando algum sinal de claridade momentânea. Converti todos os meus valores em insignificantes pedaços instantâneos de felicidade. Acabei por adormecer e me escondi nesse quarto escuro. As cobertas travam meus movimentos e conservam os meus sonhos bem escondidos. Só me resta aguardar até o próximo dia clarear na esperança de trazer com ele novos horizontes, aqueles que já não são e jamais serão os mesmos.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Destino.

Ela quis parar para comer crepe de chocolate. Pedi um de avelã. Rememorei que, em maio de 1968, numa daquelas esquinas proféticas de Paris, o filósofo Jean-Paul Sartre discursara, no auge do fervor, a favor da revolução e de uma existência mais humana. Houve um instante de emoção entre nós com a lembrança repentina de Sartre. Ela enxugou os olhos e disse que mataria a aula de tarde para me conhecer melhor. Fiquei em estado de choque, jamais imaginei que aquela menina, dos olhos amendoados e traços tão bem delineados pudesse sequer olhar para mim. E hoje ali estava ela, por alguma ironia do destino, pairada em minha frente. Nenhuma manhã de inverno jamais pareceu tão perfeita. Seu cheiro adocicado penetrava minhas narinas, e me fazia sorrir. Eu podia sentir cada um dos músculos do meu rosto se movimentando, a cada gesto dela. Claire olhou seu relógio e se levantou rapidamente dizendo que estava atrasada. Ela me esperaria às duas da tarde na esquina que ficava entre nossos colégios. Sinceramente, eu não conseguia assimilar os acontecimentos daquela manhã. Vivi momentos que simplesmente foram inacreditáveis. Salvei Claire, a menina dos meus mais profundos sonhos, de um grave acidente. E passei mais de uma hora observando seus olhos, brilhantes, agradecendo-me por tal feito. Pura coincidência, ou seria sorte? Eu meramente estava no lugar certo, no instante certo. Paguei a conta e em seguida comecei a caminhar lentamente em direção ao meu colégio. Faltava uma hora para o ínicio da aula de Literatura do professor Henry. Todavia eu precisava chegar um pouco antes, necessitava contar tudo o que aconteceu naquela manhã. Desde a morte do meu pai, Henry se tornara o melhor amigo que alguém podia ter. Estava sempre de prontidão para me escutar e me dar os conselhos necessários para erguer a cabeça e seguir em frente. Quando cheguei ele estava conversando com um aluno do segundo ano. Me viu, acenou e pediu para esperar no sofá. Dez minutos se passaram e Henry apareceu, sorridente e bem humorado como todos os dias. Me ofereceu alguns biscoitos e em seguida perguntou o que me trazia ali mais cedo do que o normal. As borboletas no meu estômago começaram a rodopiar novamente, só ao mencionar aqueles momentos. Eu narrava os acontecimentos com uma abundância de detalhes e assim ia revivendo cada instante dentro da minha cabeça. Quando acabei de relatar, instantaneamente, senti meus músculos imóveis uma vez mais. Henry sorria intensamente para mim. Ele sabia o que eu sentia por Claire desde o primeiro momento em que a vi, alguns meses atrás. As poesias, que escrevi para ela quando a admirava na saída do colégio, estavam guardadas com ele. Um professor de Literatura sempre aprecia poesias, não? Esse era o único motivo plausível pra o desejo dele de guardá-las. Porém ele insistia em dizer que algum dia eu iria precisar daqueles pedaços de papéis, afirmava que teriam um valor muito significativo no futuro. Segundo ele, o destino e o acaso colocariam aquela bela menina dos cabelos cor de mel em meu caminho. Ela parecia tão inalcançável para mim, que eu costumava achar graça quando ele declarava tal asneira. No entanto hoje tudo, finalmente, parecia fazer sentido. Henry me deu alguns conselhos e desejou-me boa sorte. Abracei-o forte e agradeci por todas as coisas que estava fazendo para me ajudar. As horas demoravam para passar. Cada minuto parecia uma eternidade. Depois de muito ansiar pela hora de ir embora, o professor finalizou a aula e nos dispensou. Passei velozmente no banheiro. Olhei meu semblante no espelho, ajeitei um pouco meu cabelo que estava sempre bagunçado e dei um sorrisinho sem graça e nervoso. Saí pela porta lateral e passei no jardim. As flores não estavam muito bonitas, porém havia uma que reluzia no meio de todas as outras que encontravam-se sem cor. Arranquei a flor mais bela e de longe pude sentir seu perfume. Caminhei ofegante e nervoso em direção à esquina onde ela me esperaria. Eu estava dez minutos adiantado quando cheguei. Apoiei meu peso em um muro de um prédio ao passo que tentava parar de pensar, mas tudo o que se passava no meu subconsciente era mais forte do que qualquer uma das minhas vontades racionais. Meu coração palpitava rapidamente, parecia que estava prestes a explodir dentro do meu peito. Minha boca estava seca e meu corpo suava frio. Era tão difícil me conter, mas eu precisava, não podia parecer um tolo. Vinte minutos se passaram e ela não aparecia. Meia hora e nada. O desespero começou a dominar cada célula do meu corpo e em seguida fui tomado por uma tristeza profunda. No momento em que finalmente aceitei que ela não iria aparecer, comecei a me culpar por ter acreditado no destino. Ele nunca tinha movimentado nada a meu favor, porque isso iria acontecer justamente naquele momento? Abaixei a cabeça e virei as costas. Nesse segundo escutei uma voz chamando meu nome e me virei. Era ela, correndo e sorrindo do outro lado da calçada. Podia traduzir o movimento dos seus lábios me pedindo desculpas. Ela se aproximou e parou exatamente na minha frente. Doce e sorridente. Me deu um beijo estalado na bochecha. Senti meu rosto corar e fiz o impossível para que ela não percebesse isso. Entreguei a flor e ela agradeceu, gaguejando um pouco, sem saber o que fazer. Quando percebi estávamos caminhando perto do Jardim Botânico, então como era um dos meus lugares preferidos, perguntei se ela gostaria de ir comigo. Ela afirmou que sim com a cabeça e abriu um sorriso maravilhosamente perfeito, depois disse que era um dos lugares que mais gostava de ir também. Claire não parava de falar, sentia que ela estava um pouco envergonhada, mas que sabia lidar com isso ao passo que não parava de me fazer perguntas. Pude perceber que ela gostava da minha companhia e se sentia confortável comigo. Assim que chegamos na parte mais bonita do lugar, meu lugar preferido em todo o mundo, peguei-a pelas mãos e tomei a direção do lago. Chegamos perto da beira e me sentei na grama, ela fez o mesmo. Nossas conversas eram tão boas e divertidas, parecia que já nos conhecíamos há algum tempo. Eu não conseguia parar de sorrir para ela. Meus músculos do rosto já estavam dormentes, não sentia mais nada, além de felicidade. Ela me agradecia quase a todo instante pelo feito da manhã e disse que ter me conhecido, além do fato de salvar a vida dela, foi uma das melhores coisas que podia ter acontecido naquele momento em sua vida. Eu concordei com tudo o que ela falava e ela sempre sorria. De repente ela se levantou e sentou bem perto de mim, quando começou a se aproximar eu não sabia como agir. Só pude sentir o que estava acontecendo quando seus lábios aveludados encostaram nos meus. Eu sorri e suspirei profundamente. Meu corpo estava petrificado e todos os meus sentidos falhando. Ela sorriu sem jeito e encostou sua cabeça em meu peito. Três horas se passaram e ali estávamos, conversando e nos conhecendo. A coisa que eu mais fazia, além de gaguejar algumas vezes seguidas, era sorrir. De repente, um pouco assustada, ela olhou o relógio e disse com tristeza que estava na hora de ir. Eu concordei e disse que a levaria em casa. Andamos por mais ou menos vinte minutos. Quando chegamos na porta já estava anoitecendo, eu podia ver a lua um pouco escondida entre as nuvens iluminando o céu. Ela me olhou por alguns instantes imóvel e perguntou quando iríamos nos ver de novo. Eu disse que no dia seguinte a estaria esperando no mesmo lugar, pois tinha algo que a pertencia há algum tempo e estava na hora de entregar. Ela não entendeu nada e obviamente ficou curiosa, mas prometeu que esperaria até o dia seguinte. Por alguns intermináveis instantes fiquei sem saber como agir. Fiz movimentos um pouco atrapalhados e me aproximei para me despedir com um beijo estalado nos lábios. Acho que a partir desse dia começou a ser traçada uma bela história de amor, que duraria muitos anos. Finalmente as poesias, que durante um bom tempo, estiveram tão bem guardadas, teriam seu destino certo.

sábado, 3 de abril de 2010

Completamente nova.

Mudanças nem sempre são necessárias, mas muitas vezes elas podem estar acobertadas por todas as mentiras que até certo momento pareciam verdades. Quando ainda existem motivos para acreditar que podem existir tentativas, não há problema em seguir pelo mesmo caminho, mas já não há mais nada. Absolutamente nada. Hoje posso garantir que não há coisa melhor do que pular e ver o horizonte surgir de um modo totalmente diferente. Jamais pude sentir sensação tão revigorante e inovadora, espero que continue sendo assim.

domingo, 21 de março de 2010

Só me resta seguir em frente.

Grande parte das vezes as coisas não acontecem simplesmente porque não eram pra acontecer. Cansei de tentar procurar significados e respostas para tudo. Não vou me culpar por mais nada, acredito plenamente que existem caminhos traçados para se cruzar até o ponto que se tornam opostos. É a vida. No final tudo vai dar certo. Tudo vai ficar bem. Recomeços são difíceis, eu sei, porém ficar presa no passado não vai me fazer viver o presente da melhor maneira possível. Acho que já fiz minha escolha.

terça-feira, 16 de março de 2010

Descrença.

Quantas vezes será que podemos desviar dos caminhos que nos conduzem até a nossa realidade? Temo não poder clarear a nebulosidade que envolve meus olhos e me deixa desnorteada, perdida, completamente distante do que eu realmente busco. Já não sei mais aonde posso encontrar algo que seja capaz de preencher o vazio que foi deixado em mim, minha aptidão para me recuperar se foi com o mesmo estrondo que você e ainda levou tudo o que me pertencia. Não consigo descobrir nenhum raio de luz que possa clarear a escuridão que me reveste, meu mundo desabou depressa com a mesma velocidade que a água da chuva cai sobre minha cabeça tentando lavar a única sobra de sanidade que está em meu poder. E para completar a minha situação de desalento a trilha que me levava de volta para casa se extinguiu. Minha consciência se perdeu em meio aos restos que foram deixados para mim, desta maneira já não me encontro mais. Fui transformada em outra pessoa e padeço ao ver no que me converti, abate aos poucos o que resta de racionalidade em minha mente, aquela que todas as lembranças ainda não foram capazes de corroer. Todos os momentos pareciam tão esplêndidos, todas as palavras pareciam tão admiráveis. Tudo era capaz de se encaixar de uma forma incomparável, meus olhos e meu corpo jamais haviam presenciado algo tão anormal e tão distinto. Me enganei ao cogitar a possibilidade de tudo o que você sentia ser singular e me iludi ao considerar que poderia te ter sobre meu domínio para sempre. Todavia era inconcebível não fazê-lo pois você aparentava ser tão meu como nada nunca havia sido. Você me apareceu como um sonho, daqueles que são difícies de acreditar, e de repente foi substituído e me deixou como um pesadelo dos mais agoniantes, que te deixam incapaz de repousar a cabeça serenamente sobre o travesseiro. Eu depositei todas as minhas forças na tentativa de apagar da minha memória o seu semblante e destruir de uma vez as recordações de tudo o que foi construído durante o tempo que você valia a pena. Me abomino ao notar que tudo ainda é em vão, pois todas as vezes que fecho os meus olhos achando que é possível amenizar os sintomas dessa doença que se fez você, me deparo com a realidade e concluo que ainda não fui capaz de diluir esse dano que foi causado em mim. Minha existência se estagnou e grande parte do que me manteve segura por milésimos de segundos foi erguido com base em mentiras, fui enganada e ao mesmo tempo me enganei, minha ingenuidade me abateu e depois me ergueu de volta, um pouco desacordada e sonolenta e hoje ela é o que ainda assume meu coração quando vejo a esperança do meu recomeço brotar entre as formosas e reluzentes flores que desabrocham no início da Primavera.

terça-feira, 2 de março de 2010

Devaneios.

E aqui estou eu, novamente, driblando os meus pensamentos inseguros e limitados, reformulando minhas ideias e aparentando que sei exatamente o que necessito. Puro desespero momentâneo que com o passar dos dias está se tornando parte do meu cotidiano...Para ser sincera ele já toma meus dias faz tempo, só que tudo parecia normal enquanto eu fingia não perceber onde estava chegando. Os caminhos se dispõem arduamente diante do meu olhar mas ainda não há a direção certa, tudo não passa de uma mescla de desalento e crueldade. Nada me acalma, absolutamente nada, pra ser sincera, tudo ultimamente me tira a calma. Sabe o que é pior ainda que todas essas sensações absurdas e angustiantes? Sentir meu coração se chocar contra o meu peito, como se dentro de mim estivesse acontecendo uma guerra, todas as vezes que me atrevo a imaginar momentos que você estava do meu lado. Momentos que nunca voltarão. Momentos que eu só precisava do seu sorriso. Momentos que só seu abraço me fazia sorrir. Momentos imperfeitos e cheios de detalhes sóbrios que se somavam e se transformavam magicamente em histórias inesquecíveis. Momentos que jamais vão acontecer de novo. São esses devaneios que ainda me mantém aqui, retida em celas invisíveis que me aprisionam em minhas próprias vontades. Preciso me libertar, mas antes preciso de coragem.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Ainda.

Seus olhos hesitaram em se focar nos meus por alguns instantes, enquanto isso minha respiração inconstante se alastrava por todos os meus sentidos inconscientes. Esse encontro já havia acontecido algumas vezes e o sentimento, assim como o brilho daqueles olhos, eram imutáveis. Acontecimentos desfavoráveis ou palavras distorcidas jamais mudaram isso. Pela primeira vez eu tive o poder de expulsar as palavras da minha boca sem ao menos sentir o que fazia. Meu coração poderia rasgar meu peito e ainda assim seria indolor. Somente o som da sua voz ecoava em minha cabeça e as palavras que não tive a ousadia de citar, agora são somente um pedaço dos sonhos que poderei ter. Não há mais o que pensar, porém ainda restam decisões que não foram tomadas. Não posso, ainda.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Lembrança.

Quando começo a aceitar que preciso manter longe do meu pensamento suas lembranças, você retorna para minha vida como um furacão selvagem, levando contigo outra vez, toda a sanidade que tentei manter intacta durante os dias irrelevantes, que passaram para você como se eu nunca houvesse existido. Pobre consciência que se limita a reter nossos momentos frágeis. Quantas noites ainda precisarei ficar em claro até que me convença de que já desaprendi a respirar? Sou apenas uma sombra, opaca e embaçada, sou o que restou de mim mesma quando vi sua imagem se perder entre a neblina, cúmplice dessa asfixia irrefreável que me despedaça a razão. Espero o tempo transcorrer na expectativa de consentir que já não há mais o que se fazer, me empenhei e entreguei todas as minhas forças porém não fui capaz de te fazer meu, não fui suficiente para sua felicidade e aos poucos você foi me renegando e ainda assim eu te desejava cada dia mais. O desespero estampado na íris de meus olhos foi se multiplicando através de cada uma das células do meu corpo. Por que me negar tão pouco? Creio que o mais notável nisso tudo tenha sido seu silêncio, as mãos frias e o pulso constante. Sua naturalidade em se manter indiferente e minha inaptidão em permanecer calma, impossível conciliar características tão distintas. Preciso reaprender a viver, pois desde que apareceu em minha vida meus segundos são somente resultado das recordações ilusórias que me acorrentam ao que é você e consequentemente me quebram em infinitos estilhaços. Cada um desses incontáveis fragmentos contém um pouco da angústia que sufoca meu peito a cada minuto que permaneço sem seu toque. Enquanto eu achava que tudo o que estava guardado dentro de mim era recíproco, você me mantinha como mais um brinquedo em sua estante, aquele para ser usado quando não havia mais nenhum à sua espera. Não posso continuar atada aos meus momentos contigo, não posso mais formar sua imagem em minha cabeça a cada piscar de olhos, porém simplesmente não sei como me soltar e sendo assim só posso me responsabilizar pela minha fraqueza e por minha incapacidade de me desconectar. Estou definhando, minhas forças se esvaem a cada segundo e já não existem mais justificativas, apenas fatos e são eles que precisam me guiar, no entanto estão carregados de minhas lamúrias e do meu desespero. Porque não sou capaz de sanar essa doença que parece incurável tão rapidamente como apareceu e agora faz parte do sangue que corre em minhas veias? As lágrimas insistem em escorrer mas não serão capazes de chegar ao seu principal objetivo, que é lavar da minha alma esse sofrimento que domina todos os meus sentidos. É tão fácil fingir, mais fácil ainda é fugir, aparentar que está bem ao passo que tudo em seu interior grita e se contorce clamando por uma resposta. A ideia de redirecionar minhas motivações é tão absurdamente tentadora que poderia torná-la real se realmente quisesse que as coisas fosse assim, mas de que adianta? Não posso esperar que meu bem estar se reflita no que é desconhecido, não posso deixar que minhas esperanças sejam sustentadas pelo que não é costumeiro. Posso usar qualquer um e por alguns e devastadores instantes me obrigar a esquecer o que você é para mim, mas quando voltar ao lugar que me pertence, nada irá fazer sentido e a dor, cruelmente, aos poucos tomará conta de mim. Porque ainda insisto em sentir falta do que jamais concretamente foi meu? Nunca foi meu por inteiro e possivelmente isso nunca fez parte dos seus verdadeiros planos. Quero você, seus defeitos, suas carícias, seus abraços, seus sorrisos, quero tudo aquilo que foi capaz de me conquistar, porém de que adianta querer? Sempre ocultei todos os meus verdadeiros sentimentos temendo sua reação, mas de nada adiantou, pois antes tivesse revelado o que eu encobria, assim haveria um motivo concreto para esse afastamento. Nunca medi esforços pra te ver feliz e pela primeira vez sou capaz de não me arrepender de absolutamente nada que fiz, agora só me resta esperar, o tempo poderá me ferir mais um pouco. Mas somente ele poderá me trazer a resposta que tanto aguardo. Apenas não negarei que ainda sonho com o dia que você me necessitará e imediatamente virá em minha direção com os braços abertos, para me abraçar forte e tirar meu fôlego, como imagino todas as vezes que tento repousar minha cabeça no travesseiro.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Apenas tudo.

Inexplicavelmente o tempo passou e ainda segue passando, rápido e quase indolor. Afixei meus pedaços e pude abandonar meu passado desestimulante e incômodo. Quase instantaneamente enxerguei minha verdadeira imagem, que já não era mais o resultado da sombra que me encobria. Me desafiei cegamente e como resultado obtive a realidade que sempre sonhei possuir. Sou fruto de cada um dos meus simples desacertos, da união das minhas certezas e inverdades e de inúmeros momentos inesquecíveis que jamais voltarão. É quase impossível abandonar a lembrança de todos os sonhos que foram despedaçados, porém a sensação de voltar a lutar por meus desejos ainda é extasiante demais. O que eu perdi não foi algo irrelevante, a cicatriz ficou...todavia adquiri aprendizados e memórias que carregarei até meu último suspiro. Posso voltar a cometer alguns erros, afinal sou humana, contudo jamais voltarei a ser a mesma que eu era antigamente. Hoje, ao me observar no espelho tenho orgulho daquilo que consegui construir e ainda que possua cicatrizes internas que a vida não me poupou, sorrio sem pensar nelas, pois me sinto feliz e plena comigo. Isso basta.

domingo, 17 de janeiro de 2010

Destino final.

Hoje acordei e descobri que até meu inconsciente suplica pela sua presença, ainda que isso possa consumir todas as minhas forças. Porque será tão difícil cortar as amarras que ainda me prendem aqui? Porque o tempo insiste em passar rápido e extrair de mim as lembranças que ainda me fazem bem? Porque as pessoas se enclausuram tanto em seus mundos pequenos e esquecem de ver que existe uma vida pra viver? Porque existem seres tão egoístas que para se manterem intactos preferem destruir alguém? Não consigo nesse momento clarear nada na minha cabeça, preciso de um tempo sozinha, preciso de um tempo longe, preciso de coisas que eu não tenho e que suplicaria por ter. Todo mundo cansa em alguma parte do caminho...parece que é minha vez.