quinta-feira, 15 de julho de 2010

Quando?

Momentos acontecem e se tornam passado. Somente o futuro poderá responder as perguntas que me atormentam e tiram meu sono agora. Quanto mais eu vivo, mais eu desisto de achar que certas coisas fazem sentido. Nada está programado para acontecer linearmente. Mas e se nem assim acontece? Passei pela mesma coisa incontáveis vezes e ainda assim não sou capaz de entender. Meu silêncio se mantém. Ele está vivo, posso sentir enquanto ri de mim e das minhas fraquezas, baixinho, me torturando o pensamento. Queria poder fugir, talvez o cotidiano que se faria inexato sem minha presença, te fizesse sentir minha falta. Encontro e vejo partir, em sequência, diversas, incontáveis, milhões de vezes. É como um filme, sem graça, que assisto já sabendo que no final não haverá um "feliz para sempre". Quantas vezes mais será que minhas fantasias se transformarão naquelas montanhas de areia que o mar carrega sem piedade alguma? Eram enormes, hoje não passam de minúsculos grãos dissolvidos em uma imensidão de água gelada. Queria que certas palavras explodissem da sua boca, com força capaz para chegar até mim. Sei que te machucaria ao dizer que não me recordo mais seu semblante, que nada me marcou, porém não sou capaz. Só consigo mentir para mim. Poderia esboçar um sorriso, um desenho bem arquitetado, daqueles que em momentos tristes, só você conseguiria. Um momento inesquecível. Mais uma vez, diversas, se possível. Eu lembro. Perfeitamente. Como se fosse ontem. Em meus sonhos? Quase todas as noites. Acordo sentindo que poderia acontecer algumas vezes mais. Se possível sempre. Amargas armadilhas que eu crio no meu inconsciente para me martirizar um pouco mais. Digamos que, esse pode ser um dos meus passatempos preferidos. Me corta por dentro saber que nada pode te obrigar a sentir falta do meu abraço. Que abraço? Como vou cobrar isso? Nem ao menos recorda minha voz. No entanto, sei o lugar que posso ir pra saber que você existe. Para lembrar, recriar e moldar vagarosamente certos detalhes. Lá posso me envolver com recordações e encontrar minha paz interior. Posso fechar os olhos diversas vezes e nem assim me deparo com o desconhecido. Encontros e como resultado deles, tenho conclusões. Cansei de ter a força necessária para acreditar no futuro, reconstruir e logo após, ter meus desejos totalmente demolidos. Fiquei exausta. Dessa vez sim, eu preciso de uma boa razão para voltar a acreditar que realmente valerá a pena meu esforço. Por enquanto só me restam lágrimas.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Começar de Novo.

Questionamentos sempre foram umas das principais motivações da minha vida. Nada poderia ser meu combustível senão fossem as perguntas que me mantém viva. A escuridão do quarto me envolve de tal maneira que fico mais angustiada do que normalmente. Do outro lado da cama minha irmã me observa. Ela tenta em vão me ajudar. Desejos profundos corroem meu rosto, que ainda possui traços infantis, transformando-o. Alguns pedaços do espelho quebrado da parede, estão no chão. Eles refletem o semblante triste e envelhecido. Quem sou eu agora? Uma menina nova, acabada pelos acontecimentos da vida. Tenho uma faca gravada estrategicamente no coração. Ela perfura qualquer uma das minhas esperanças futuras. O caderno rasgado em cima da cama é a ilustração perfeita de toda a minha vida. Textos inacabados suplicam pelo final feliz clichê. Já menti tanto para as pessoas que me cercam. Os pedaços preciosos de papel, que contém momentos inesquecíveis da vida, não merecem tal falta de consideração. Não haverá final feliz. Nunca houve. Talvez seja por isso que meus antigos textos sempre acabassem perfeitos. A falta de momentos extasiantes sempre me manteve atada a linhas, onde não havia outra alternativa senão preencher com a quantidade de felicidade que fosse necessária para mim. Certas imagens se fixavam no meu imaginário como flashes. Durante rápidos segundos mantive os olhos fechados. Dois dias em claro haviam sido mais que suficientes para deixá-los exaustos. Um sorriso pareceu nascer no canto de meus lábios. Exatamente no momento que o imaginário me envolvia, tive um reflexo e abri os olhos. As lentes de contato estavam me machucando. Não quis tirar. Em alguns minutos eu precisaria enxergar perfeitamente, para então entender meu futuro. Eu já não era mais a mesma pessoa. As roupas espalhadas no chão podiam confirmar isso. Tão fraca. Tão frágil. Em certos momentos até fazia sentido sentir pena de mim. Eu precisava de compaixão para poder seguir em frente. Era sempre necessário para me acalmar ser a injustiçada e chorar em vão. O dom de atuar em meu próprio mundo sempre me fez esnobar as atrizes da televisão. Elas sempre faziam as mesmas expressões, aquilo me cansava. De repente movimentei a cabeça. Lágrimas voltaram a me envolver. Minha irmã já estava arrumada para me acompanhar, mas eu preferia atrasar um pouco certos momentos. Respirei fundo e caminhei novamente em direção à janela. Outra vez relembrei certas coisas. Aquele sorriso bobo sempre seria inesquecível. Enquanto nuvens negras e carregadas dominavam o céu azul, decidi que era melhor me vestir logo. O vestido era tão escuro quanto aquelas nuvens. Que sensação inebriante. Do céu, aquelas massas pareciam me dominar. Eu me sentia leve, ainda que o peso do futuro pairasse sobre mim. Cenário perfeito para o fim de tarde mais triste da minha vida. 
-Vamos, já estamos atrasadas. Seus óculos escuros e sua bolsa já estão comigo. - Minha irmã repetiu algumas vezes, antes que eu lhe desse a atenção necessária.
Eu não sabia o que aconteceria. Depois de tantas vezes dando adeus, havia chegado o momento do que seria o último de tantos. Jamais imaginei que aquele poderia ser o desfecho. Um dos principais motivos de tudo aquilo era eu. Será que eu seria capaz de encarar todas aquelas pessoas? Continuo viva, diferentemente dele. Mas ninguém pode ser capaz de entender que a falta de coração me matou também.
As cicatrizes vão arder para o resto dos meus dias. Pelo menos hoje tenho consciência plena que ele não veio para tornar minha vida fácil. Só melhor. As amarras que me prendiam ao passado se desfizeram rapidamente. Em algumas horas teria certeza que a minha única alternativa é começar de novo.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Desejo Momentâneo de uma Noite de Inverno.

Perdida no meio de uma imensidão negra, sinto o vento bater no meu rosto. Olho para os lados e não consigo enxergar absolutamente nada. Pequenas luzes se distorcem, ofuscando meus olhos, mas o vazio que está na frente parece me puxar. É muito mais soturno e interessante. Vejo que estou me distanciando de tudo, ao passo que o pensamento voa para muito longe. O frio me incomoda. Me mantém parada. Estática. Minha cabeça descansa serenamente sobre os braços, que começam a ser atormentados pelo frio da noite. Enquanto isso os olhos se movem em suas órbitas buscando algo que não está ali. Forço as pálpebras uma contra a outra e depois fecho os olhos. Só consigo escutar o barulho do mar ao fundo, ora calmo, ora agitado. A inquietação toma conta de mim ao passo que contraio os músculos da face. Fico amedrontada, pois jamais gostei de estar sozinha, à deriva, no desconhecido. Busco e nada encontro. As luzes clareiam e apagam. Fecho e abro os olhos. Quase me derrubo. Me movimento rapidamente como se a turbina de um avião me tomasse pelos cabelos. Sinto algo me puxar. Mordo os lábios e os contraio rapidamente. Minhas mãos não ficam quietas, parecem buscar algo. Imagens se formam e levam para longe minha imaginação. Paro. Penso. Escuto. Sinto. Vejo. Você. Aqui. Agora. Em mim.