sexta-feira, 9 de julho de 2010

Começar de Novo.

Questionamentos sempre foram umas das principais motivações da minha vida. Nada poderia ser meu combustível senão fossem as perguntas que me mantém viva. A escuridão do quarto me envolve de tal maneira que fico mais angustiada do que normalmente. Do outro lado da cama minha irmã me observa. Ela tenta em vão me ajudar. Desejos profundos corroem meu rosto, que ainda possui traços infantis, transformando-o. Alguns pedaços do espelho quebrado da parede, estão no chão. Eles refletem o semblante triste e envelhecido. Quem sou eu agora? Uma menina nova, acabada pelos acontecimentos da vida. Tenho uma faca gravada estrategicamente no coração. Ela perfura qualquer uma das minhas esperanças futuras. O caderno rasgado em cima da cama é a ilustração perfeita de toda a minha vida. Textos inacabados suplicam pelo final feliz clichê. Já menti tanto para as pessoas que me cercam. Os pedaços preciosos de papel, que contém momentos inesquecíveis da vida, não merecem tal falta de consideração. Não haverá final feliz. Nunca houve. Talvez seja por isso que meus antigos textos sempre acabassem perfeitos. A falta de momentos extasiantes sempre me manteve atada a linhas, onde não havia outra alternativa senão preencher com a quantidade de felicidade que fosse necessária para mim. Certas imagens se fixavam no meu imaginário como flashes. Durante rápidos segundos mantive os olhos fechados. Dois dias em claro haviam sido mais que suficientes para deixá-los exaustos. Um sorriso pareceu nascer no canto de meus lábios. Exatamente no momento que o imaginário me envolvia, tive um reflexo e abri os olhos. As lentes de contato estavam me machucando. Não quis tirar. Em alguns minutos eu precisaria enxergar perfeitamente, para então entender meu futuro. Eu já não era mais a mesma pessoa. As roupas espalhadas no chão podiam confirmar isso. Tão fraca. Tão frágil. Em certos momentos até fazia sentido sentir pena de mim. Eu precisava de compaixão para poder seguir em frente. Era sempre necessário para me acalmar ser a injustiçada e chorar em vão. O dom de atuar em meu próprio mundo sempre me fez esnobar as atrizes da televisão. Elas sempre faziam as mesmas expressões, aquilo me cansava. De repente movimentei a cabeça. Lágrimas voltaram a me envolver. Minha irmã já estava arrumada para me acompanhar, mas eu preferia atrasar um pouco certos momentos. Respirei fundo e caminhei novamente em direção à janela. Outra vez relembrei certas coisas. Aquele sorriso bobo sempre seria inesquecível. Enquanto nuvens negras e carregadas dominavam o céu azul, decidi que era melhor me vestir logo. O vestido era tão escuro quanto aquelas nuvens. Que sensação inebriante. Do céu, aquelas massas pareciam me dominar. Eu me sentia leve, ainda que o peso do futuro pairasse sobre mim. Cenário perfeito para o fim de tarde mais triste da minha vida. 
-Vamos, já estamos atrasadas. Seus óculos escuros e sua bolsa já estão comigo. - Minha irmã repetiu algumas vezes, antes que eu lhe desse a atenção necessária.
Eu não sabia o que aconteceria. Depois de tantas vezes dando adeus, havia chegado o momento do que seria o último de tantos. Jamais imaginei que aquele poderia ser o desfecho. Um dos principais motivos de tudo aquilo era eu. Será que eu seria capaz de encarar todas aquelas pessoas? Continuo viva, diferentemente dele. Mas ninguém pode ser capaz de entender que a falta de coração me matou também.
As cicatrizes vão arder para o resto dos meus dias. Pelo menos hoje tenho consciência plena que ele não veio para tornar minha vida fácil. Só melhor. As amarras que me prendiam ao passado se desfizeram rapidamente. Em algumas horas teria certeza que a minha única alternativa é começar de novo.

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